domingo, 25 de março de 2007

O Bom Pastor

Fui assistir ao filme "O Bom Pastor". Trama muito boa, Matt Damon está ótimo, tema interessante.O filme mexeu comigo e aos poucos vou percebendo as razões.
Tirando toda trama sobre a CIA, ao que ela se propõe e o que significa fazer parte dela, o que mais me chamou a atenção foi o personagem principal. Sua trama interna que eu me coloquei a decifrar sem saber que estava fuçando em alguma coisa em mim.

Edward, é um cara sufocado por tudo que ele procura ser, e pelo que guarda consigo. Não a toa ele faz parte de uma entidade secreta, uma realidade paralela. Guarda segredos, tenta a qualquer custo ser tão reto a serviço de uma instituição onde prevalece a hipocrisia, a manipulação, a crueldade (grande paradoxo). Ele é fiel até o fim a ela, mas trai a tudo mais a seu redor e principalmente a si mesmo. Assim ele fez com o casamento, ele se casa mesmo sem amar, abandona seu verdadeiro amor em nome do dever de fazer o que tem que ser feito.
Edward procura ser tão eficiente, tão perfeito eticamente (lutando o tempo todo para não fazer o que fez seu pai) que ele acaba por cometer atitudes que vão cair no extremo oposto: assassinatos, torturas, cagoetagem, infelicidade, traição. Ele me parece sempre ileso, a parte dos outros, como numa redoma. E quem está por perto paga um preço muito alto por suas escolhas e jogos. Esse é o modo como ele conduz suas ovelhas...

Me perguntei quantas vezes na vida, fiz algo simplesmente por ser ético, para ser uma boa pessoa, uma boa cidadã. E quantas vezes pessoas devem ter interagido comigo assim também. Quantas vezes me fechei em valores que considerava virtuosos, mas que me afastavam do humano, e assim, me cegavam a ponto de comprometer muitas relações, eme levavam ao oposto do que eu pensava atingir...
O mais fácil é se questionar sobre o que não é ético, o que não fazemos de ético, sobre fraquezas e defeitos. Mas... e as virtudes? Supostas virtudes... Onde elas nos levam? Onde elas me levam?
Questiono porque tudo isso está muito confuso pra mim. Valores. Até onde é bom ter firmes valores e convicções? O "mal" fica mais fácil saber onde leva, é mais óbvio no meu entendimento mas e levantar a bandeira do bem e da ética? Merece ser a qualquer custo?Quando é a hora de parar?

A conclusão que me vem é que nem oito nem oitenta. Falta de valores e ética não é um bom caminho. Mas uma ética por ser ética apenas, valores para se dizer que tem, para ser um bom modelo também não me parece positivo. Ambos caem nas mesmas armadilhas, de sermos pegos na curva da impermanência pois são dois lados da mesma moeda. Mais uma vez, o tão almejado caminho do meio me parece uma boa saída, onde o que é, é porque simplesmente é, nem bom nem ruim. Integração das polaridades, tudo depende do contexto em que se encontra.

As vezes as virtudes aprisionam. O dever aprisiona. É como se quiséssemos estar perto do Divino, mas chegamos mais perto do Inferno. Tenho me questionado muito sobre esse território intocado que são os meus mais caros valores, dos quais me orgulho, que tanto cultivo. Não gostaria de abandoná-los, mas preciso encontrar um sentido muito sincero pra eles...

Os conceitos, por si só são apenas palavras e são temporários, impermanentes. O conceito vivido é experiência direta, é incorporado, é sabedoria. Se servirem a uma motivação positiva a nós e aos demais, então terá um sentido positivo e um alcance amplo, onde nós mesmos podemos colocar em xeque de acordo com cada contexto nossas convicções e "valores".

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