quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Retorno


Dias de inocência, brincadeira leve, alegria no olhar, aperto de mão e olho no olho. Dias vividos. Eu estava pela primeira vez em tantas aventuras, realmente em casa. Cabeça vazia, coração cheio de afeto e paz, muita paz.
Observar a simplicidade, a felicidade com o que é essencial, a união, camaradagem, receptividade, meu Deus, que riqueza. Uma terra rica em recursos naturais, rica em alimento, rica em qualidade de vida, rica em alegria de viver.
Poucos momentos me fizeram sentir tanta vida. Vida pulsando em todo lugar, momento presente, vontade de aproveitar intensamente essas bênçãos que caiam do céu como a chuva na cachoeira. Ah, as cachoeiras, surpresas cristalinas depois da jornada. Limpeza de alma, de mente e de corpo. Vitalidade e renovação. Natureza pura.
O mar com seu azul vibrante, suas areias macias, seus coqueiros paradisíacos. O mar de mainha, o mar misterioso e imprevisível. O mar dos dançarinos de ondas.
A mata, a jornada. Por vezes aberta, outras mais fechada. Tudo funcionando em perfeita harmonia. Há um porquê da árvore ser assim, estar assim. Do bicho estar lá. Aprendi que a maioria dos seres que eu temia nos lugares mais selvagens, não atacam, eles apenas se defendem. Estão quietos e nós estamos no seu espaço, é instintivo se defender com veneno, queimadura, picada ou mordida. É o único jeito de se preservar. Então vale o julgamento? Esse bicho é bom, esse é mal, esse é traiçoeiro… Ele só quer sobreviver.
Reconsiderei demais a palavra julgamento. Percebi quantas vezes a ferida me faz ter um julgamento severo sobre situações e pessoas. Por que lá a água viva queimou e não impediu a caminhada? Porque a bolha no pé não tornou a jornada mais difícil? Nada disso era capaz de tirar o sorriso do rosto, era uma energia muito forte, xamânica que me tomava. Me senti parte daquilo tudo com meu desprendimento. O pé no chão na lama, comer fruta com as mãos... feliz retorno que me pegou fundo. Retorno ao lugar a que pertenço.
Estou um pouco assustada com minha própria liberdade. Acho que estou assustada com o tamanho da minha força e minha capacidade de desprendimento. E um pouco triste como se tivesse adentrado um portal onde perdi tudo isso. Como se tivesse ficado lá e continuasse ecoando aqui, fazendo barulho, mexendo.
Quero movimentar mas preciso silenciar. As vezes choro baixinho de alegria. As vezes dou risada sem motivo, de tristeza.

Estou com saudades de quem sou.
E ainda sou uma pessoa de muita sorte.

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