quarta-feira, 18 de junho de 2008

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo



"Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

A noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

A lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do sol).

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, a lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz as vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora."

Fernando Pessoa


Dedico a tudo de surpreendente que tenho vivido e cai sobre mim como avalanche. Adoro surpresas e tenho apreciado todas, especialmente as que são como um soco no estômango.
Um brinde a tudo que me é inesperado, me arrebata, me enche o peito, me conforta, me alegra, me faz chorar, sentir saudades, dói, desperta a angústia, o vazio, a tudo que me tira o chão.
Se viver de verdade é viver qualquer sentimento e estado de espírito intensamente, nunca fui tão viva e assim, nunca estive tão próxima de morrer.

Dedico ao Hugo pela discussão. Por discutir comigo tão honestamente sem deixar de olhar nos olhos.(Eu tão resistente e durona não lembrava o valor disso)
Dedico a Bete, pela caminhada na Rua Augusta, com vento gelado na cara, conversando sobre momentos felizes com a sensação de que não estávamos lá. Adoro essa sensação de não estar, alheia ao externo quando a presença é maior. (Eu tão dramática esqueci o sabor dessa simplicidade)
Dedico a Quitéria, pela lealdade.(Eu tão desesperada, havia esquecido que pessoas podem ser leais assim)
Dedico a Maria Cândida pela atitude de carinho numa solicitação tão fútil e pelo arrastão no compartilhar de um sonho.(Isso me recordou como é forte uma amizade fraterna)

Dedico muito emocionada a todos os queridos amigos de faculdade que num encontro me fizeram sentir o que é estar em casa, ainda carrego esse sentimento comigo. Nunca esquecerei a cena em que na minha chegada (super atrasada) vocês todos se levantaram das cadeiras pra me cumprimentar com um abraço forte e sorriso e logo se puseram a arrumar as mesas para que ficasse mais fácil um conversar com o outro.
Coisa boa sentir tamanho conforto de alma, receber carinho espontâneo e verdadeiro, entremeado com piadas e brincadeiras a meu respeito!
Foi lindo recordar de onde vim e a que pertenço. Lindo ver que somos iguaizinhos e como nosssas vidas caminharam. Lindo olhar vocês. (E eu que tinha deixado de lembrar o valor de estar em casa, de ter por perto quem te conhece e te quer bem mesmo com tão pouca convivência).

Meu enorme afeto a todos vocês.

P.S: P.... como somos pessoas de sorte!

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